Sabe quando você não tem vontade nenhuma de transar, nenhum interesse sexual e você nem pensa em sexo? Pois é, diante de tantas dificuldades e correria do dia a dia, é normal que você não tenha muita vontade e nem disposição para se entregar aos prazeres do sexo.
Porém, se a falta de desejo é persistente e causa sofrimento, interferindo na sua vida e no seu bem-estar, então a sua falta de interesse pelo sexo pode ser sinal de uma disfunção sexual.
Nesse artigo nós vamos falar sobre o transtorno de desejo sexual. Lendo esse artigo até o fim, você vai entender o que é esse transtorno, suas causas mais frequentes, como é feito o seu diagnóstico e como tratar essa disfunção sexual que atinge milhares de mulheres brasileiras.
PROBLEMAS SEXUAIS
Qual a origem dos problemas sexuais?
Muitos homens e mulheres apresentam, ao longo da vida, problemas de ordem sexual: falta de desejo, dificuldade em ter excitação e lubrificação, dificuldades em ter ereção e ejaculação, falta de orgasmo, dor durante a relação sexual e por aí vai.
Na maioria das vezes, os problemas sexuais estão ligados às fases da resposta sexual.
RESPOSTA SEXUAL
O que é resposta sexual?
Para que uma pessoa atinja o prazer e a satisfação sexual, ela passa por um ciclo chamado reposta sexual (que nada mais é do que o ato sexual em si). Esse ciclo é composto de quatro fases: desejo, excitação, orgasmo e resolução.
Desejo: O desejo é a primeira fase do ciclo e é uma fase subjetiva. Isso quer dizer que o desejo é pensado e sentido segundo a interpretação de cada pessoa. O que causa desejo em uma pessoa, pode não causar na outra.
O desejo é uma sensação provocada por estímulos que envolvem a participação de todos os órgãos sensoriais (ou os cinco sentidos – olfato, paladar, audição, visão e tato).
Além dos órgãos sensoriais, o pensamento, a imaginação ou os fantasmas eróticos contribuem para o desencadeamento do desejo.
Esses estímulos desencadeiam na pessoa a vontade de atividade sexual.
Excitação: A excitação é a segunda fase do ciclo sexual. Assim como o desejo, a excitação também tem um elemento subjetivo.
Mas, é na fase da excitação que as respostas fisiológicas do corpo aos estímulos aparecem. Nessa fase acontecem as alterações físicas visíveis.
Nessa fase, a vasocongestão pélvica, (afluência anormal de sangue aos vasos sanguíneos na região pélvica) provoca as principais alterações físicas na mulher: turgescência (inchaço – congestão) da genitália externa (vulva), lubrificação e expansão vaginal.
Orgasmo: O orgasmo é a terceira fase da resposta sexual. Ele é o clímax do prazer sexual.
O orgasmo tem um elemento subjetivo caracterizado pela sensação extrema de prazer sexual, perda da acuidade dos sentidos e sensação de desligamento do meio externo.
O aspecto físico do orgasmo é acompanhado de contrações musculares rítmicas e reflexas (automáticas) dos músculos do períneo e órgãos reprodutores que podem durar de segundos a minutos.
Como funciona o orgasmo na mulher?
Na mulher, o orgasmo provoca a contração de todos os órgãos pélvicos: útero, vagina, grandes e pequenos lábios, musculatura profunda do assoalho pélvico, músculos do clitóris e até os músculos do ânus.
Nesta fase, a musculatura do clitóris, particularmente os músculos do bulbo esponjoso, pressionam as glândulas paravaginais (glândulas de Bartholin) e parauretrais (Skene), ejetando mais fortemente sua secreção.
Ao mesmo tempo, o muco acumulado no útero é expulso mais fortemente, bem como a própria secreção das paredes vaginais.
Toda a região fica instantaneamente mais molhada e este fenômeno pode ser chamado de ejaculação feminina.
Resolução: A resolução é a última fase da resposta sexual. Após a ejaculação, a excitação vai diminuindo progressivamente.
As frequências cardíaca e respiratória vão normalizando, a circulação sanguínea volta ao normal e a congestão e a ereção vão desaparecendo.
A pessoa sente então uma sensação de bem-estar e relaxamento muscular generalizado ou cansaço intenso.
Na resolução, acontece o que a gente chama de período refratário que é o intervalo mínimo entre a obtenção de ereções. Esse período pode variar de pessoa para pessoa.
Para a maioria das mulheres, este período refratário não existe: ela pode, logo após o ato sexual ter novamente desejo, excitação e novo orgasmo, não necessitando esperar um tempo para que isso ocorra novamente.
Se você quiser obter mais informações sobre a resposta sexual, leia o artigo sobre esse assunto aqui. |
Quando uma pessoa se encontra em bom estado de saúde sexual, a resposta sexual é o ciclo natural da busca do prazer e da satisfação sexual.
Porém, muitos homens e mulheres não conseguem completar esse ciclo. Geralmente, quando isso acontece é porque em algum momento desse processo, alguma coisa não está funcionando corretamente. Nesses casos, a pessoa pode começar a apresentar problemas sexuais.
De modo geral, os problemas sexuais estão relacionados com as fases da resposta sexual. Muitas mulheres apresentam problemas relacionados com a fase do desejo.
Antes de falar sobre o problema de desejo feminino, vamos tentar entender o que é e como acontece o desejo no corpo da mulher.
DESEJO SEXUAL FEMININO
O que é desejo sexual?
Desejo sexual é um conceito muito complexo que varia de um indivíduo para outro e que inclui diferentes aspectos (hormonais, psicológicos, relacionais etc.). Embora não haja consenso em torno de uma definição oficial, o desejo é considerado um componente subjetivo da resposta sexual.
Isso quer dizer que o desejo é pensado e sentido segundo a interpretação de cada pessoa. O que causa desejo em uma pessoa, pode não causar na outra.
O desejo é uma sensação provocada por estímulos que envolvem a participação de todos os órgãos sensoriais (ou os cinco sentidos).
- O cheiro é um estímulo que envolve o olfato.
- O sabor do beijo envolve o paladar.
- O tom da voz, as palavras eróticas, os gemidos são estímulos que envolvem a audição.
- As fotos e filmes eróticos ou a imagem da pessoa desejada envolvem a visão.
- As carícias envolvem o tato.
Além dos órgãos sensoriais, o pensamento, a imaginação ou os fantasmas eróticos contribuem para o desencadeamento do desejo.
Esses estímulos desencadeiam na pessoa a vontade de atividade sexual.
Nessa primeira fase da resposta sexual não aparecem indícios orgânicos objetivos. A gente pode dizer que o desejo se passa mais na cabeça do que no corpo.
- O que acontece na cabeça?
Os estímulos são captados pelo cérebro através dos sentidos.
O cérebro possui áreas (sistema límbico) que vão receber esses estímulos.
Com a ajuda da zona responsável pela memória, essas partes do cérebro vão fazer a apreciação dos estímulos e considerar se eles são ou não estímulos positivos.
O sistema límbico envia então o seu relatório para outra parte do cérebro: o córtex.
O córtex analisa o relatório e, se os estímulos foram considerados positivos, ele ordena o desencadeamento do processo de excitação do sistema nervoso. O que dá início à segunda fase da resposta sexual.
Vale ressaltar que, apesar de muitos estudos apontarem o desejo como a primeira fase da resposta sexual (desejo – excitação – orgasmo – resolução), especialistas demonstraram que o desejo sexual feminino muitas vezes pode não preceder automaticamente a excitação. Isso quer dizer que, na mulher, o desejo sexual pode aparecer durante ou após a fase da excitação (ou seja, a mulher pode iniciar uma relação sexual sem vontade alguma e começar a ter desejo e vontade de continuar o ato sexual após os estímulos do parceiro).
Em uma mulher que goza de perfeito estado de saúde sexual, o desejo pode ser desencadeado antes ou após a excitação e provocado por estímulos que envolvem os órgãos sensoriais, mas também o pensamento, a imaginação e os fantasmas eróticos.
Porém, se a mulher apresenta algum problema físico ou psicológico, o mecanismo do desejo pode ser prejudicado. Na maioria dos casos, o problema mais frequente relacionado à fase do desejo é a falta de desejo sexual.
Quais são as causas dos problemas sexuais relacionados ao desejo sexual?
Vários fatores podem contribuir para a falta de desejo sexual na mulher. De modo geral, esses fatores estão relacionados ao parceiro, ao relacionamento, à condição individual da mulher e a fatores médicos.
Fatores relacionados ao parceiro
O estado geral de saúde e problemas sexuais masculinos normalmente podem ter um impacto significativo no desejo sexual da parceira.
Fatores relacionados ao relacionamento
Vrios estudos demonstram que existe uma correlação entre o desejo sexual feminino e o funcionamento do casal. Segundo esses estudos, os fatores citados abaixo influenciam diretamente no desejo sexual da mulher.
- Comunicação inadequada.
- Falta de confiança da parte da mulher.
- Sentimentos negativos em relação ao seu parceiro sexual.
- É possível que a mulher sinta menos atração pelo parceiro do que sentia no início do relacionamento.
- Discrepâncias no desejo para atividade sexual.
- Problemas de violência (física e emocional) no casal.
Alguns estudos revelam que mulheres com relacionamentos de longa duração tem maiores chances de apresentarem baixo desejo do que aquelas que possuem parceiros esporádicos ou amantes. Hayes et al. (2008)
Fatores relacionados à condição individual da mulher
Existem muitos fatores pessoais que podem ser prejudiciais ao desejo sexual da mulher: fatores culturais e religiosos, educação sexual, autoimagem, personalidade da mulher, idade, maternidade e menopausa são alguns exemplos.
- Fatores culturais, religiosos e educação sexual
Estudos revelam que o grupo social em quer a mulher evolui exercem um papel profundamente modelador da sua atividade sexual.
Três integrantes do grupo social são fundamentais no estabelecimento dos padrões de comportamento: a família, a religião e a escola.
Muitas famílias, que não conseguem falar sobre sexo abertamente por não saberem como lidar com a sexualidade ou por não terem conhecimento dela e, que dessa forma, acabam educando seus descendentes não para o exercício da sexualidade saudável, e sim, para a sua repressão.
As religiões, que apresentam um sistema de crenças que orientam o comportamento e a vida das pessoas de acordo com as linhas de seus preceitos morais.
As escolas, que focam o ensinamento sexual apenas na base biológica (ovulação, fecundação, entre outros), deixando de lado o ensinamento sobre a experiência da relação sexual como uma atividade natural do ser humano.
A mulher criada dentro desse contexto, desenvolve uma noção distorcida do sexo e do seu papel na relação sexual. Muitas acham o sexo pecado, ou um ato sujo, sentem-se culpada e acabam inibindo o próprio desejo de ter prazer sexual.
- Autoimagem
Autoimagem é o que a pessoa vê de si própria: inclui a forma, o tamanho e as proporções do corpo. Não significa apenas aparência física, mas também, integridade corporal, percepção de corpo intacto, completo, e funcionando de forma inteira.
A autoimagem é fundamental para a expressão do desejo sexual: uma imagem corporal alterada inibe o desejo sexual, por vergonha ou por medo do julgamento do outro. O conceito de que a mulher deve ser eternamente jovem e atraente, é amplamente mantido pela mídia e pode reforçar o mal-estar da mulher.
A falta de desejo sexual é comum após certas cirurgias (como colostomia e mastectomia) assim como após tratamento a longo prazo com medicamentos que podem provocar alterações no corpo (como por exemplo corticosteroides que causam ganho de peso) afetando a autoimagem e consequentemente o desejo sexual.
Experiências sexuais traumáticas e abuso sexual podem levar à uma deterioração da autoimagem. Foi relatada uma diminuição no desejo e fantasias sexuais em muitas mulheres que foram abusadas sexualmente na infância, às vezes chegando à aversão sexual.
- Personalidade da mulher
A personalidade da mulher é um fator essencial, porque influenciará sua visão dos eventos. Mulheres introvertidas, obsessivas, presas em uma dinâmica de controle constante e aquelas que sentem vergonha ou culpa permanente e que sentem a sexualidade como algo sujo, serão particularmente expostas a um distúrbio de desejo sexual.
- Idade
O desejo sexual feminino diminui com a idade.
É certo que, com a idade, há uma diminuição do interesse sexual devido às mudanças hormonais causadas pela menopausa. Mas, não devemos esquecer que ao mesmo tempo ocorrem mudanças físicas, mentais e emocionais, ligadas simplesmente ao processo de envelhecimento.
As mudanças físicas (ganho de peso, rugas, incontinência etc.) podem levar a uma baixa autoaceitação. A perda de juventude e beleza pode ser uma fonte de ansiedade e depressão, fatores em primeiro plano na falta de desejo sexual.
- Maternidade
Flutuações e alterações nos níveis hormonais durante a gestação podem afetar o desejo sexual.
A maternidade, pode alterar a imagem que a mulher tem de si mesma, priorizando seu relacionamento com a criança em detrimento de seu relacionamento íntimo.
Outro fator desencadeante da baixa de desejo sexual é a depressão, que pode aparecer durante a gravidez ou no pós-parto.
- Climatério – Menopausa
O climatério é definido pela Organização Mundial da Saúde como uma fase biológica da vida, que compreende a transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da vida da mulher. A menopausa corresponde ao último ciclo menstrual e é reconhecida somente depois de passados 12 meses da sua ocorrência. A menopausa acontece geralmente em torno dos 48 aos 50 anos de idade.
As modificações orgânicas que ocorrem na mulher durante o climatério e a menopausa não mudam sua capacidade de sentir prazer, mas podem influenciar a resposta sexual, que pode ser mais lenta.
Os principais hormônios sexuais femininos são o estrogênio (também conhecido como estrógeno) e a progesterona, produzidos principalmente pelos ovários durante a vida reprodutiva.
O estrogênio é o principal hormônio sexual feminino. Além de participar da ovulação, concepção e gestação, é responsável pelo desenvolvimento das características sexuais secundárias femininas e pelo controle do ciclo menstrual. O estrogênio também é responsável pela manutenção da integridade óssea e regulação dos níveis de colesterol.
Algumas funções do estrogênio são:
- estimulação do crescimento do endométrio do úteropreparando-o para a fertilização;
- distribuição da gordura do corpo na mulher, geralmente depositado em torno do quadril, nádegas e coxas;
- desenvolvimento mamário;
- crescimento de pelos pubianos;
- estimulação do desenvolvimento dos pequenos e grandes lábios da vulva.
A progesterona atua conjuntamente com o estrogênio, preparando o organismo feminino para a concepção e a gravidez. Além disso, participa da regulação do ciclo menstrual.
Durante o climatério e a menopausa ocorre a diminuição da liberação de estrogênio e progesterona. O declínio da função hormonal ovariana nesses períodos determina modificações significativas nos órgãos genitais internos e externos que podem influenciar a resposta sexual.
Nos órgãos genitais externos, o maior efeito da deficiência estrogênica é a diminuição do fluxo sanguíneo, que pode promover alterações tais como:
- escassez dos pelos pubianos;
- redução de parte do tecido adiposo dos grandes lábios;
- retração dos pequenos lábios e do clitóris.
As alterações observadas na vagina devido à diminuição dos níveis estrogênicos são mais marcantes do que as da genitália externa. As alterações mais comuns são:
- atrofia vaginal (o revestimento da vagina se torna mais fino, mais seco e menos elástico);
- prurido;
- irritação;
- ardência;
- sensação de pressão;
- dor na penetração.
Sintomas neuropsíquicos também podem surgir durante o climatério e a menopausa (distúrbios vasomotores, cefaleia, ansiedade, depressão, fadiga, insônia, entre outros) e todos esses sintomas podem influenciar a sexualidade da mulher. Vale lembrar que cada mulher vivencia seu climatério de acordo com sua singularidade.
Fatores relacionados à condição médica
Fatores psicológicos
- Ansiedade
A ansiedade pode ser definida como um sentimento de apreensão e medo caracterizado por sintomas físicos, psicológicos e cognitivos. Medo é a resposta emocional a ameaça real ou percebida, enquanto a ansiedade é a antecipação de ameaça futura. No contexto de estresse ou de perigo, essas reações são naturais.
No entanto, algumas pessoas se sentem extremamente ansiosas com as atividades cotidianas, o que pode resultar em sofrimento e prejuízo significativo dessas atividades.
A ansiedade é considerada a mais importante causa imediata dos problemas sexuais. Vários estudos comprovam que a ansiedade interfere nas fases do ciclo da resposta sexual e que mulheres com falta de desejo sexual são mais preocupadas e ansiosas do que mulheres com bom funcionamento sexual.
Uma mulher ansiosa, com medo do fracasso por exemplo, pode ser levada a simular não apenas o orgasmo, mas também o desejo de ter relações sexuais simplesmente para esconder a sua própria condição ou para agradar seu parceiro.
- Depressão
Problemas sexuais e depressão costumam ocorrer simultaneamente com grandes evidências de associação.
Existe um consenso de que todas as fases do ciclo de resposta sexual, com a possível exceção da resolução, podem ser prejudicadas em mulheres apresentando sintomas depressivos e que a falta de desejo sexual é o segundo sintoma somático mais frequente em mulheres deprimidas, precedido apenas por distúrbios do sono.
Embora a depressão possa ser uma causa direta da falta de desejo sexual, não podemos esquecer que a falta de desejo sexual também pode ser um sintoma da depressão. Isso quer dizer que, uma mulher que sofre de depressão pode desenvolver problemas de desejo sexual. Por outro lado, uma mulher pode apresentar depressão como consequência da falta de desejo sexual.
Fatores como o álcool, cigarro e doenças vasculares podem contribuir para o aparecimento de ambas as doenças. Além do mais, o tratamento da depressão com antidepressivos pode provocar problemas sexuais como a falta de libido. E, finalmente, depressão e falta de desejo sexual podem ter causas distintas.
Fatores fisiológicos
- Doenças
Qualquer doença associada às esferas urinária (como a incontinência urinária, cistites, infecções urinárias e vulvovaginites), ginecológica ou anorretal, causam desconforto podendo interferir no desejo sexual feminino.
Doenças cardiovasculares, hipertensão e doenças crônicas como o diabetes também podem afetar a sexualidade. Estudos revelam que mulheres diabéticas, podem apresentar falta de desejo sexual tanto por causa dos distúrbios induzidos pelo diabetes (neuropatia, comprometimento arterial etc.) quanto pelo sentimento de uma doença crônica que pode levar à depressão.
Qualquer tipo de câncer afeta a sexualidade, seja pelo efeito do tratamento no organismo, ou pelas sequelas físicas visíveis como é o caso do câncer de mama com mastectomia total por exemplo. A deterioração da autoimagem pode afetar não somente o desejo sexual da mulher como também a relação do casal.
- Presença de outros problemas sexuais
Uma causa muito comum da diminuição do desejo sexual é a presença simultânea de problemas de excitação sexual. Isso deve-se ao fato de que os principais fatores dos problemas relacionados ao desejo e à excitação (fatores físicos, psicológicos e contextuais) são muitos próximos.
Outros problemas sexuais também podem estar associados à diminuição do desejo. Uma mulher anorgásmica, por exemplo, pode se sentir suficientemente frustrada com sua disfunção primária e desenvolver secundariamente uma diminuição do desejo sexual. O vaginismo e a dispareunia também podem afetar consideravelmente o desejo sexual.
- Agentes farmacológicos
Diferentes medicações podem atuar negativamente na resposta sexual. Mulheres usuárias de agentes anti-hipertensivos, antidepressivos (inibidores seletivos da recaptação de serotonina), drogas quimioterápicas, drogas que agem no sistema nervoso central e medicações que interferem no equilíbrio hormonal feminino frequentemente relatam diminuição do desejo sexual, da excitação e dificuldade em atingir o orgasmo.
Finalmente, o abuso do álcool interfere, de maneira comprovada, no desempenho sexual principalmente na fase do desejo.
Como a gente viu, são muitos os fatores que podem causar a diminuição do desejo sexual na mulher. Desde as preocupações diárias (problemas com o relacionamento, estresse, ansiedade, depressão) e outras condições sociais, físicas e emocionais de cada mulher até doenças graves como o câncer.
Diante de todas essas circunstâncias, é compreensível que a mulher não tenha desejo sexual. Isso não quer dizer necessariamente que essa falta de interesse pelo sexo seja uma disfunção sexual. Na verdade, a falta temporária de desejo sexual é normalmente aceita como um problema circunstancial.
Porém, quando o desinteresse por atividades sexuais persiste por um período prolongado (mais de seis meses) e interfere de maneira negativa na vida da mulher causando sofrimento, então é provável que a falta de desejo sexual possa ser caracterizada como o transtorno de desejo sexual feminino.
Quando a diminuição ou a falta do desejo sexual pode ser diagnosticada como disfunção sexual ou transtorno de desejo sexual feminino?
Para responder essa pergunta, vamos entender primeiro o que é uma disfunção sexual.
DISFUNÇÃO SEXUAL
Disfunção sexual é um transtorno mental.
Isso mesmo!
Médicos, psicólogos, psiquiatras, terapeutas e outros especialistas da saúde do mundo inteiro concordam que uma disfunção sexual é caracterizada como um transtorno mental.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), guia publicado pela American Psychiatric Association, um transtorno mental é “uma síndrome caracterizada por perturbação clinicamente significativa na cognição, na regulação emocional ou no comportamento de um indivíduo que reflete uma disfunção nos processos psicológicos, biológicos ou de desenvolvimento subjacentes ao funcionamento mental. Transtornos mentais estão frequentemente associados a sofrimento ou incapacidade significativos que afetam atividades sociais, profissionais ou outras atividades importantes”.
De modo geral, os transtornos mentais são caracterizados por alterações no pensamento, nas emoções e/ou no comportamento de uma pessoa. Quando essas alterações causam angústia significativa à pessoa e/ou interferem na sua vida cotidiana, elas são consideradas uma doença mental ou um transtorno de saúde mental.
A disfunção sexual como transtorno mental
Segundo o Manual DSM-5, as disfunções sexuais são definidas como uma “perturbação clinicamente significativa na capacidade de uma pessoa responder sexualmente ou de experimentar prazer sexual”.
Essa definição de disfunção sexual não é muito diferente da definição citada na Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (também conhecida como Classificação Internacional de Doenças – CID 10), guia publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS): “As disfunções sexuais dizem respeito às diferentes manifestações segundo as quais um indivíduo é incapaz de participar numa relação sexual, como ele ou ela desejaria”.
Essas duas definições de disfunção sexual, estão diretamente relacionadas com a definição de transtorno mental: trata-se de uma perturbação clinicamente significativa, que causa angústia e que afeta atividades sociais, profissionais ou outras atividades importantes, como a resposta sexual.
Qualquer disfunção sexual afeta diretamente a resposta sexual.
Se você quiser obter mais informações sobre disfunção sexual, leia o artigo sobre esse assunto aqui.
Uma disfunção sexual muito comum relacionada à fase do desejo é o transtorno de desejo sexual feminino.
TRANSTORNO DE DESEJO SEXUAL FEMININO
O que é transtorno de desejo sexual feminino?
Não é muito raro ver mulheres se queixando de falta de desejo sexual. Na verdade, o desinteresse pelo sexo é muito presente na sexualidade feminina e pode se manifestar de várias formas desde a ausência de pensamentos eróticos até a falta completa de interesse por qualquer atividade sexual.
Quando a mulher apresenta sinais permanentes de desinteresse por atividades sexuais, considera-se que ela apresenta um transtorno (ou distúrbio) de desejo sexual.
Os sintomas do transtorno de desejo sexual feminino estão descritos no Manual (MDS-5) que define esse transtorno como “a ausência ou a diminuição do interesse sexual, desejo, pensamentos sexuais e fantasias, assim como ausência do desejo responsivo”.
Assim, quando a mulher sofre de transtorno de desejo sexual, normalmente ela apresenta os seguintes sintomas:
- ausência ou diminuição das fantasias sexuais e pensamentos eróticos;
- ausência ou diminuição do interesse por atividades sexuais;
- ausência ou diminuição do desejo de ter atividades sexuais;
- a mulher não se sente muito motivada na busca de sensações sexuais;
- geralmente, a mulher não toma iniciativa de uma atividade sexual;
- a mulher se envolve com relutância quando o seu parceiro toma a iniciativa de uma atividade sexual.
Além de definir o transtorno de desejo sexual e apresentar os sintomas, o Manual ainda classifica o distúrbio em primário ou adquirido.
Se o transtorno de desejo sexual esteve presente desde que a mulher se tornou sexualmente ativa (quer dizer que o desejo sexual sempre foi fraco ou ausente), o distúrbio é considerado primário.
Se o transtorno de desejo sexual iniciou depois de um período de função sexual relativamente normal (quer dizer que o desejo estava presente, mas diminuiu ou desapareceu gradualmente ou subitamente), o distúrbio é chamado adquirido. Nesse caso, o transtorno ainda pode ser subdividido em:
Situacional – O transtorno de desejo sexual ocorre somente com determinados tipos de estimulação, situações ou parceiros (quer dizer que o desejo é fraco ou ausente apenas durante certos estímulos, ou em certas situações, por exemplo, com um parceiro em particular).
Generalizado – O transtorno de desejo sexual não se limita a determinados tipos de estimulação, situações ou parceiros (quer dizer que o transtorno aparece em qualquer situação e independentemente do parceiro).
Diagnóstico do transtorno de desejo sexual feminino
Segundo o Manual (MDS-5), os critérios para o diagnóstico do transtorno de desejo sexual feminino levam em conta as dificuldades relacionadas ao desejo e à excitação.
O Manual estabelece que os seguintes critérios devem estar presentes na mulher para que o médico possa diagnosticar os problemas relacionados ao desejo como uma disfunção sexual:
A. Ausência ou redução significativa do interesse ou da excitação sexual, manifestada por pelo menos três dos seguintes:
- Ausência ou redução do interesse pela atividade sexual.
- Ausência ou redução dos pensamentos ou fantasias sexuais/eróticas.
- Nenhuma iniciativa ou iniciativa reduzida de atividade sexual e, geralmente, ausência de receptividade às tentativas de iniciativa feitas pelo parceiro.
- Ausência ou redução na excitação/prazer sexual durante a atividade sexual em quase todos ou em todos (aproximadamente 75 a 100%) os encontros sexuais (em contextos situacionais identificados ou, se generalizado, em todos os contextos).
- Ausência ou redução do interesse/excitação sexual em resposta a quaisquer indicações sexuais ou eróticas, internas ou externas (p. ex., escritas, verbais, visuais).
- Ausência ou redução de sensações genitais ou não genitais durante a atividade sexual em quase todos ou em todos (aproximadamente 75 a 100%) os encontros sexuais (em contextos situacionais identificados ou, se generalizado, em todos os contextos).
B. Os sintomas do Critério A persistem por um período mínimo de aproximadamente seis meses.
C. Os sintomas do Critério A causam sofrimento clinicamente significativo para a mulher.
D. A disfunção sexual não é mais bem explicada por um transtorno mental não sexual ou como consequência de uma perturbação grave do relacionamento (p. ex., violência do parceiro) ou de outros estressores importantes e não é atribuível aos efeitos de alguma substância/medicamento ou a outra condição médica.
Isso tudo quer dizer que, para que uma mulher seja diagnosticada com o transtorno de desejo sexual, é necessário que ela tenha pelo menos 3 dos 6 sintomas citados no critério A, que esses sintomas durem por pelo menos 6 meses e que esses sintomas causem sofrimento para a mulher.
Além do mais, o diagnóstico do transtorno de desejo sexual não deve ser aplicado:
- Aos casos em que a falta de desejo é atribuível inteiramente a outro transtorno mental.
- Aos casos em que os sintomas sexuais são considerados quase exclusivamente associados aos efeitos de outra condição médica (como por exemplo o diabetes melito, doença endotelial, disfunção da tireoide, doença do sistema nervoso central).
- Aos casos em que o uso de substâncias ou de medicamentos pode explicar a falta de desejo ou interesse sexual.
- Aos casos em que fatores interpessoais ou contextuais significativos, como perturbação grave do relacionamento, violência do parceiro, ou outros estressores significativos explicarem os sintomas de desejo sexual.
É interessante notar que, os sintomas do critério A podem se manifestar de diferentes maneiras entre as mulheres.
Em algumas mulheres os sintomas podem ser expressos como:
- falta de interesse pela atividade sexual;
- ausência de pensamentos eróticos ou sexuais;
- relutância em iniciar a atividade sexual e em responder aos convites sexuais do parceiro.
Em outras mulheres, podem se apresentar como:
- incapacidade para ficar sexualmente excitada;
- incapacidade para responder aos estímulos sexuais com desejo;
- ausência correspondente de sinais de excitação sexual física.
Finalmente, é importante lembrar que, no caso em que a falta de interesse/desejo for justificada pela identificação por parte da própria mulher como assexual, o diagnóstico de transtorno de desejo sexual não é aplicado.
Tratamento do transtorno de desejo sexual feminino
A necessidade e a indicação do tratamento do transtorno de desejo sexual feminino (assim como o de qualquer outro transtorno mental) é uma decisão clínica complexa, específica a cada paciente. De modo geral, o tratamento do transtorno de desejo sexual feminino leva em consideração os seguintes fatores:
- a gravidade dos sintomas;
- a importância dos sintomas (p. ex., presença de ideação suicida);
- o sofrimento da paciente (dor mental) associado ao(s) sintoma(as) da paciente;
- riscos e benefícios dos tratamentos disponíveis;
- outros fatores (p. ex., sintomas psiquiátricos complicadores de outras doenças).
Considerando esses fatores, os médicos podem encontrar mulheres cujos sintomas não satisfazem todos os critérios para um transtorno mental, mas que demonstram necessidade evidente de tratamentos ou cuidados.
Caso o diagnóstico do transtorno de desejo sexual feminino seja confirmado, o médico pode indicar dois tipos de tratamento: somático e psicoterápico.
- Tratamento somático
Inclui alguns medicamentos.
Dentre os medicamentos utilizados no tratamento do transtorno de desejo sexual feminino, os mais conhecidos são os seguintes antidepressivos:
- inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs), como fluoxetina, sertralina, paroxetina e citalopram;
- inibidores de recaptação de serotonina-noradrenalina (IRSNs), como venlafaxina, duloxetina ou desvenlafaxina;
- inibidores de recaptação de noradrenalina-dopamina, como bupropiona;
- antidepressivos tricíclicos, como amitriptilina e nortriptilina: são usados em raras ocasiões atualmente para tratar a depressão devido aos seus efeitos colaterais;
- inibidores de monoaminoxidase: podem ser eficazes, mas são raramente usados, exceto quando outros antidepressivos não foram eficazes.
- Tratamento psicoterápico
Inclui tratamento com psicoterapia.
Psicoterapia, também chamada terapia de conversa ou simplesmente terapia, é um tratamento colaborativo em que paciente e terapeuta trabalham juntos para resolverem problemas psicológicos ou dificuldades emocionais.
Na psicoterapia, os profissionais de saúde aplicam procedimentos cientificamente validados para ajudar as pessoas a desenvolverem hábitos mais saudáveis e efetivos.
Existem várias abordagens para a psicoterapia.
- Terapia comportamental
A terapia comportamental foca os seus esforços na modificação dos comportamentos.
Assim, basicamente (bem basicamente!), o objetivo da terapia comportamental é identificar os comportamentos disfuncionais, quer dizer os comportamentos do indivíduo que causam sofrimento ou trazem malefícios a sua saúde, entender como e porque esses comportamentos foram estabelecidos e aplicar estratégias que ajudem o indivíduo a buscar novos comportamentos, reforçando aqueles que são adequados.
A terapia comportamental faz uso de um amplo conjunto de técnicas bem estruturadas e constantemente testadas em situações e problemas abordados pela psicologia aplicada que variam de acordo com o problema tratado.
- Terapia cognitiva
Cognições englobam atitudes, pensamentos, valores, juízos, e convicções. A terapia cognitiva parte do princípio de que a maneira como pensamos determina o modo como nos sentimos, nos comportamos e nossas reações corporais. Essa terapia ajuda a pessoa a identificar as distorções do seu pensamento e a compreender de que maneira essas distorções causam problemas na sua vida. A pessoa aprende a pensar de formas diferentes sobre as suas experiências, reduzindo sintomas e resultando numa melhora do comportamento e dos sentimentos.
- Terapia interpessoal
A terapia interpessoal foi concebida inicialmente como um breve tratamento psicológico para a depressão, e tem como objetivo melhorar a qualidade dos relacionamentos da pessoa com depressão. O terapeuta ensina a pessoa a melhorar os seus comportamentos nas relações interpessoais, como, por exemplo, a superar seu isolamento social e a responder de um modo diferente do habitual aos demais.
- Psicanálise
A psicanálise é uma abordagem de tratamento baseada na observação de que os indivíduos muitas vezes desconhecem a maioria dos fatores que determinam suas emoções e comportamentos. Esses fatores inconscientes, podem ser a fonte de considerável sofrimento e infelicidade, às vezes na forma de sintomas reconhecíveis e outras como traços de personalidade preocupantes, dificuldades no trabalho e / ou nos relacionamentos amorosos ou perturbações no humor e na autoestima. O tratamento psicanalítico pode revelar como esses fatores inconscientes afetam os relacionamentos e padrões de comportamento atuais e ajuda o indivíduo a lidar melhor com as realidades da vida adulta.
- Psicoterapia psicodinâmica
A psicoterapia psicanalítica e psicodinâmica é um processo terapêutico que ajuda os pacientes a entender e resolver seus problemas, aumentando a consciência de seu mundo interior e sua influência sobre os relacionamentos passados e presentes. Difere da maioria das outras terapias, visando mudanças profundas na personalidade e no desenvolvimento emocional.
Como a gente acabou de ver, existem várias opções de tratamento para o transtorno de desejo sexual feminino. Evidentemente, essa disfunção se apresenta em cada paciente de maneira específica.
Sendo assim, a escolha do tratamento varia de acordo com as especificidades da disfunção e das necessidades de cada paciente. Normalmente, o tratamento é feito com medicamentos e completado com alguma técnica de psicoterapia.
Como a gente viu, nem todas as mulheres que apresentam falta de desejo sexual são diagnosticadas com o transtorno de desejo sexual que é uma disfunção sexual e, portanto, um transtorno mental.
No entanto, mulheres que apresentam diminuição ou falta de desejo sexual podem e devem ser tratadas de acordo com as suas necessidades.
Um dos grandes desafios para os médicos é o de identificar a causa exata da falta de desejo sexual e indicar o tratamento adequado. Normalmente, o tratamento é feito de acordo com a causa identificada.
Tratamento de problemas relacionados à falta de desejo sexual feminino
Os tratamentos são variados e, não raro, multidisciplinar, dependendo de suas causas. Os principais são:
Tratamento para fatores associados ao relacionamento
Para que a atividade sexual seja uma experiência prazerosa e satisfatória para o casal, é fundamental que haja confiança, respeito e intimidade. A mulher precisa dessas qualidades para conseguir responder sexualmente. Essas qualidades podem ser cultivadas com alguns gestos que podem contar ou não com a ajuda de um profissional.
- Melhorar a comunicação de modo geral, incluindo conversas abertas e francas sobre sexo. Identificar o que estimula (e o que desestimula) a mulher pode ajudar o casal a criar intimidade e confiança.
- Investir nas preliminares para reativar o desejo – As relações sexuais com poucas preliminares tornam-se mecânicas. Portanto, é importante investir nas preliminares: carícias, além de diminuírem a ansiedade, aumentam a intimidade do casal e a excitação da mulher.
- Experimentar diferentes tipos de estímulos tais como vibradores e outros brinquedos eróticos, vídeos eróticos, fantasias e brincadeiras.
- Praticar juntos atividades sem envolvimento sexual. Fazer compras, ver um filme, praticar um esporte, fazer faxina na casa (por que não?) ou simplesmente dar uma caminhada juntos são exemplos de atividades que podem ajudar a aproximar o casal. É importante lembrar que não há espaço para o desejo sexual se a mulher volta para casa do trabalho com a cabeça cheia de preocupações e que as tarefas domésticas ocupam um lugar de destaque em sua vida.
Tratamento para fatores relacionados à condição individual da mulher
- Fatores culturais, religiosos e educação sexual – Tratamento psicoterápico
A mulher que apresenta diminuição ou falta de desejo sexual causado por repressão religiosa ou familiar, deve ser encaminhada para a psicoterapia ou terapia sexual. Nesses casos. questões como o autoerotismo, a masturbação e outros preceitos morais que cerceiam a expressão sexual são abordadas cuidadosamente em relação a religiosidade e a educação da mulher.
Mulheres que sofreram abuso sexual ou que apresentam conflitos profundos (como sentimentos de mágoa e vingança) devem procurar auxílio psicológico e tratamento com psicoterapia.
- Menopausa
Os diversos sintomas causados pela menopausa como fogachos, sintomas vaginais e até o aparecimento de dores nas articulações podem interferir na saúde sexual da mulher.
Cada mulher vive a menopausa de maneira única. O tratamento para os sintomas da menopausa deve ser individualizado e adaptado às necessidades de cada mulher e condicionado à fase da menopausa em que a mulher se encontra (perimenopausa ou pós menopausa).
Existem diferentes opções de tratamento para os sintomas da menopausa de acordo com as necessidades e condições físicas e psicológicas de cada mulher.
- Hormonioterapia
O uso da terapia hormonal no tratamento para menopausa é bastante controverso. Isso pode ser devido ao fato de que alguns profissionais da saúde consideram a menopausa como uma doença e não como uma etapa natural do ciclo biológico da mulher. Por conta disso, julgam ser necessário intervir quimicamente por meio da terapia medicamentosa, caracterizando o uso indiscriminado e muitas vezes desnecessário de medicamentos.
Apesar dos riscos, a terapia hormonal ainda é a escolha mais utilizada para o tratamento das manifestações clínicas da menopausa. Ela é usada para aliviar ondas de calor assim como os sintomas devido à atrofia vulvovaginal. Contudo, é necessário que o médico determine o tipo, a dose, a via de administração e a duração do tratamento mais apropriados para cada mulher individualmente.
A escolha da terapia hormonal normalmente é feita observando se a mulher tem útero ou teve uma histerectomia (remoção de parte ou da totalidade do útero). A idade também é um fator importante, assim como o tempo decorrido desde o início da menopausa.
De modo geral, o tratamento é feito com estrogênio (em mulheres que tiveram histerectomia) e com estrogênio e um progestágeno (em mulheres com útero). No tratamento podem ser utilizadas formas orais, transdérmicas (adesivos, spray, loção ou gel) ou vaginais.
Quando o tratamento é utilizado somente para sintomas vaginais, a terapia vaginal com baixa dose de estrogênio é a preferida. Nesse caso, normalmente é utilizado o tratamento tópico com cremes, comprimidos ou anéis vaginais. No entanto, para mulheres que têm útero e que o tratamento é feito com altas doses de estrogênio, a administração de um progestágeno é aconselhada.
Para mulheres que não desejam o tratamento hormonal ou para as quais esta conduta é contraindicada, outras opções de tratamento são possíveis:
- medicamentos não hormonais – uso de agentes antidopaminérgicos, antidepressivos, Hipnosedativos e vasoativos;
- uso de lubrificantes à base de água;
- fitoterapia;
- acupuntura;
- técnicas de relaxamento;
- medicina antroposófica;
- modificação do estilo de vida.
Tratamento para fatores associados à condição médica
Fatores psicológicos
- Tratamento com psicoterapia
Quando a causa da diminuição ou falta de desejo sexual é devido a um fator psicológico, a psicoterapia é geralmente o tratamento mais indicado. Duas técnicas muito utilizadas são a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a Terapia Cognitiva Baseada na Atenção Plena (MBCT)
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é um tratamento estruturado, de curta duração, direcionado para a resolução de sofrimentos do presente e modificação de pensamentos e comportamentos disfuncionais.
O tratamento de disfunções sexuais através dessa abordagem, utiliza o processo de reestruturação cognitiva, o mesmo aplicado em praticamente todos os transtornos, o que os diferencia é apenas o conteúdo dos pensamentos e conjuntos de crenças disfuncionais dos sujeitos.
A premissa básica da TCC é que nossas crenças e a maneira como pensamos e interpretamos os eventos da vida (e não eventos externos em si) afetam a maneira como nos sentimos e comportamos.
Em outras palavras, não é a situação em que você está que determina como você se sente, mas a sua percepção da situação.
O objetivo da terapia cognitivo-comportamental é identificar e corrigir pensamentos e crenças negativas. A ideia é que, se a pessoa mudar a maneira como pensa, poderá mudar a maneira como se sente.
Como a pessoa pode mudar a maneira de pensar?
A resposta para essa pergunta está no “desafio do pensamento” também conhecido como reestruturação cognitiva. Trata-se de um processo no qual a pessoa desafia os padrões de pensamento negativo, substituindo-os por pensamentos mais positivos e realistas. Isso envolve três etapas:
- Identificação dos pensamentos negativos.
- Desafio aos pensamentos negativos.
- Substituição dos pensamentos negativos por pensamentos realistas.
Outra abordagem utilizada no tratamento da diminuição ou falta de desejo sexual é a Terapia Cognitiva Baseada na Atenção Plena (MBCT), que combina terapia cognitivo-comportamental com a prática da atenção plena ou mindfulness.
Essa terapia consiste na concentração no momento atual, intencional, e sem julgamento. Concentrar-se “no momento atual” significa estar em contato com o presente e não estar envolvido com lembranças ou com pensamentos sobre o futuro. “Intencional” significa que o praticante de mindfulness faz a escolha de estar plenamente atento e se esforça para alcançar esta meta. “Sem julgar” significa que o praticante aceita todos os sentimentos, pensamentos e sensações como legítimos.
Mulheres que adotam tratamento que incorporam mindfulness desenvolvem um estado de consciência, caracterizado por atenção relaxada e focada no momento presente, facilitando a observação das sensações corporais, das emoções e dos pensamentos.
Assim, como acontece na terapia cognitivo-comportamental, na terapia cognitiva baseada na atenção plena a mulher é incentivada a identificar os pensamentos negativos. A mulher é, então, incentivada a observar simplesmente esses pensamentos e a reconhecer que são apenas pensamentos e possivelmente não refletem a realidade. Essa abordagem pode tornar tais pensamentos menos distrativos e perturbadores.
- Terapia sexual
O objetivo da terapia sexual é de ajudar o paciente a buscar soluções práticas e eficazes para encontrar prazer sexual e intensificar o desejo.
Juntos, terapeuta e a mulher, examinarão os fatores que potencialmente inibem sua libido: pouco prazer na relação sexual, demanda excessiva do parceiro, falta de aprendizado, crenças erradas, emoções contundentes, abuso sexual, dor durante a relação sexual, problemas de relacionamento no casal, imagem corporal negativa, história pessoal etc.
Durante a terapia sexual, a mulher “redescobre” a sexualidade trabalhando em pensamentos eróticos e fantasias; tornando-se consciente de suas emoções, sentimentos e crenças. A terapia se dá através de uma abordagem psico-corporal e, finalmente, por um conjunto de aprendizados que visam aumentar seu prazer na sexualidade.
Normalmente, a terapia sexual (individual) ocorre seguindo as seguintes fases:
- Avaliação do problema ou dificuldade – Nessa primeira fase é estabelecida uma relação de confiança entre a mulher e o(a) terapeuta, que faz um balanço da situação problemática. Uma avaliação médica pode ser requisitada.
- Esclarecimento da situação problemática – O(a) terapeuta sexual coletará informações mais detalhadas sobre o distúrbio e o que motiva a mulher a consultar. O objetivo é aprofundar sua compreensão do conflito antes de tentar resolvê-lo. Os objetivos da terapia sexual são formulados e os meios para alcançá-los são estabelecidos.
- Implementação de processamento – O terceiro passo é implementar um plano de tratamento. O objetivo permanece o mesmo: reduzir a ansiedade, o sofrimento, modificar crenças errôneas, pensamentos irracionais ou até comportamentos indesejados.
- Avaliação das realizações – A última fase consiste na avaliação da aprendizagem adquirida e das mudanças realizadas. O(a) terapeuta sexual certifica-se que a mulher possa aplicar certos ganhos em sua vida diária para promover o gerenciamento de sua sexualidade.
A terapia sexual também pode ser indicada como terapia de casal ou terapia de grupo.
Médico, psiquiatra ou sexólogo, julgará a melhor terapia a ser adotada para cada paciente.
Fatores fisiológicos
- Doenças
Como nós vimos, doenças associadas à esfera urinária, ginecológica ou anorretal, doenças cardiovasculares, hipertensão, doenças crônicas (como o diabetes), câncer e outros problemas sexuais como vaginismo e a dispareunia por exemplo, podem interferir no desejo sexual feminino.
Essas doenças afetam diretamente a saúde sexual da mulher. Portanto, é fundamental que a doença seja tratada e monitorada por médicos. Com o tratamento e/ou a cura da doença, o problema sexual secundário é normalmente é remediado.
Medicamentos usados no tratamento de certas doenças também podem afetar o desejo sexual da mulher. Nesses casos, recomenda-se que a mulher converse com o seu médico sobre o efeito dos medicamentos sobre a saúde sexual e solicite uma revisão da medicação. Certos antidepressivos e anticoncepcionais hormonais fazem parte da lista de medicamentos que afetam o desejo sexual.
A mulher pode contribuir para o tratamento e a prevenção da diminuição ou falta de desejo sexual diminuindo o consumo de drogas e álcool e fazendo revisão ginecológica regularmente.
- Tratamento com farmacoterapia
Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration – FDA (agência que regulamenta medicamentos), aprovou dois medicamentos para o tratamento da diminuição ou falta de desejo sexual nas mulheres: Addyi e Vyleesi.
O Addyil, desenvolvido inicialmente pela farmacêutica Boehringer Ingelheim como um medicamento antidepressivo, a flibanserina (substância ativa do Addyi), causou como efeito inesperado o aumento da libido em mulheres durante os testes clínicos. Porém, a comercialização desse medicamento é polêmica. Médicos que votaram contra a recomendação de aprovação do Addyi, afirmam que o medicamento causa mais riscos do que benefícios. Segundo eles, além do baixo efeito sobre o desejo sexual, o Addyil causa de 2 a 4 vezes mais efeitos adversos como tontura, sonolência, náusea e cansaço.
O Vyleesi, aprovado mais recentemente, é um remédio desenvolvido para despertar o desejo sexual de mulheres na pré-menopausa. O Vyleesi possui em sua composição a substância bremelanotide, que atua em nível cerebral nos receptores de melanocortina. A medicação deve ser utilizada 45 minutos antes da relação sexual através de uma caneta autoinjetável, administrada na coxa ou no abdômen. Os efeitos secundários mais comuns do medicamento são náuseas e vômitos, rubor, reações no local da injeção e cefaleia.
Assim como Addyil, a comercialização do Vyleesi também causa polêmica. Médicos expressaram dúvidas sobre a eficácia da droga e dizem que as mulheres correm riscos ao consumir o medicamento.
Especialistas afirmam que medicamentos como esse podem ajudar mulheres com dificuldades sexuais relacionadas a fatores hormonais, por exemplo. Mas não são a solução para quem perde a libido por motivos psicológicos. Eles lembram que a falta de interesse sexual feminino é multifatorial, então, às vezes, é necessário combinar vários procedimentos, como medicação para os problemas físicos e uma terapia.
Finalmente, a FAD ressalta que o Vyleesi não melhora o desempenho sexual.
No Brasil, Addyi e Vyleesi ainda não estão registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Antes de finalizar o artigo, vale lembrar alguns pontos importantes:
O desejo é um conceito ainda desconhecido no campo da medicina. Sabe-se, portanto, que o desejo é subjetivo e cada mulher tem o desejo despertado de maneira única. O que provoca desejo sexual em uma mulher pode não provocar em outra.
O transtorno de desejo sexual feminino é uma disfunção sexual complexa porque é difícil identificar a fronteira entre o normal e o patológico.
Apreciar a verdadeira motivação da mulher é o principal desafio: problemas com o parceiro, falta de comunicação entre o casal, duração da relação, educação restrita, autoimagem prejudicada, doenças crônicas, doenças ginecológicas, enfim, a lista de fatores que podem interferir no desejo sexual da mulher é enorme e deve ser bem entendida.
Para evitar qualquer subjetividade no diagnóstico e tratamento, é recomendável identificar as principais causas a serem consideradas.
A mulher pode tentar entender se a falta de desejo sexual está ligada a problemas do dia a dia do casal. Nesse caso, ela pode tentar resolvê-los favorecendo uma comunicação aberta e a escuta com o parceiro, antes de procurar ajuda de um profissional. Se ela julgar necessário, um terapeuta pode ser de grande ajuda.
Se a falta de desejo sexual está mais relacionada à inexperiência, falta de conhecimento da própria sexualidade, monotonia ou constrangimentos, a mulher pode procurar a ajuda de um sexólogo.
Muitas vezes, a falta de desejo sexual está relacionada a problemas autoimagem, ansiedade ou depressão. Nessas situações, a mulher pode procurar os serviços de um psicólogo ou psicoterapeuta.
Quando a falta de desejo for provocada pela menopausa, a mulher pode consultar seu médico ou ginecologista e questioná-lo sobre as possibilidades de uma terapia hormonal e considerar tratamentos alternativos.
É importante lembrar que a sexualidade não se extingue com a velhice, sendo possível a manutenção da atividade sexual nessa etapa da vida, proporcionando bem estar e qualidade de vida às pessoas idosas. É certo que, com o envelhecimento, transformações fisiológicas no homem e na mulher acontecem, mas não são inibidoras da atividade sexual, pois a capacidade de amar e de exercer práticas sexuais não têm limite cronológico. O limite está no campo psicológico, no preconceito e na intolerância social.
A mulher também deve dedicar mais tempo a si mesma, à prática de atividades agradáveis, adotar uma alimentação saudável, diminuir o consumo de tabaco, álcool ou drogas e fazer exames preventivos uma vez ao ano.
Espero que esse artigo tenha sido útil e tenha esclarecido possíveis dúvidas sobre a diminuição ou falta de desejo sexual.
Caso precise de informações sobre o transtorno de desejo sexual feminino, entre em contato com o Portal.
Se você acha que esse artigo pode ser útil para alguém que você conheça, não hesite em compartilhá-lo!
Até a próxima!