Transtorno de excitação sexual [Guia Completo]

Não é raro encontrar mulheres que dizem ter dificuldades em se excitarem durante uma relação sexual. Na verdade, a dificuldade em atingir e manter a excitação é um problema sexual feminino muito comum.

Porém, é importante saber que nem todo problema de excitação sexual é uma disfunção sexual.

Nesse artigo você vai ver qual a origem e as causas dos problemas de excitação sexual.

Você também vai ver o que é uma disfunção sexual e o que é e como tratar o transtorno de excitação sexual.

Finalmente você vai conhecer o tratamento indicado para diferentes problemas de excitação sexual.

PROBLEMAS  SEXUAIS

Qual a origem dos problemas sexuais?

Muitos homens e mulheres apresentam, ao longo da vida, problemas de ordem sexual: falta de desejo, dificuldade em ter excitação e lubrificação, dificuldades em ter ereção e ejaculação, falta de orgasmo, dor durante a relação sexual e por aí vai.

Na maioria das vezes,  os problemas sexuais estão ligados às fases da resposta sexual.

RESPOSTA SEXUAL

O que é resposta sexual?

Para que uma pessoa atinja o prazer e a satisfação sexual, ela passa por um ciclo chamado reposta sexual (que nada mais é do que o ato sexual em si). Esse ciclo é composto de quatro fases: desejo, excitação, orgasmo e resolução.

Desejo: O desejo é a primeira fase do ciclo e é uma fase subjetiva. Isso quer dizer que o desejo é pensado e sentido segundo a interpretação de cada pessoa. O que causa desejo em uma pessoa, pode não causar na outra.

O desejo é uma sensação provocada por estímulos que envolvem a participação de todos os órgãos sensoriais (ou os cinco sentidos – olfato, paladar, audição, visão e tato).

Além dos órgãos sensoriais, o pensamento, a imaginação ou os fantasmas eróticos contribuem para o desencadeamento do desejo.

Esses estímulos desencadeiam na pessoa a vontade de atividade sexual.

Excitação: A excitação é a segunda fase do ciclo sexual. Assim como o desejo, a excitação também tem um elemento subjetivo.

Mas, é na fase da excitação que as respostas fisiológicas do corpo aos estímulos aparecem e se tornam visíveis como a ereção por exemplo.

Orgasmo: O orgasmo é a terceira fase da resposta sexual. Ele é o clímax do prazer sexual.

O orgasmo tem um elemento subjetivo caracterizado pela sensação extrema de prazer sexual, perda da acuidade dos sentidos e sensação de desligamento do meio externo.

O aspecto físico do orgasmo é acompanhado de contrações musculares rítmicas e reflexas (automáticas) dos músculos do períneo e órgãos reprodutores que podem durar de segundos a minutos.

Como funciona o orgasmo na mulher?

Na mulher, o orgasmo provoca a contração de todos os órgãos pélvicos: útero, vagina, grandes e pequenos lábios, musculatura profunda do assoalho pélvico, músculos do clitóris e até os músculos do ânus.

Nesta fase, a musculatura do clitóris, particularmente os músculos do bulbo esponjoso, pressionam as glândulas paravaginais (glândulas de Bartholin) e parauretrais (Skene), ejetando mais fortemente sua secreção.

Ao mesmo tempo, o muco acumulado no útero é expulso mais fortemente, bem como a própria secreção das paredes vaginais.

Toda a região fica instantaneamente mais molhada e este fenômeno pode ser chamado de ejaculação feminina.

Resolução: A resolução é a última fase da resposta sexual. Após a ejaculação, a excitação vai diminuindo progressivamente.

As frequências cardíaca e respiratória vão normalizando, a circulação sanguínea volta ao normal e a congestão e a ereção vão desaparecendo.

A pessoa sente então uma sensação de bem-estar e relaxamento muscular generalizado ou cansaço intenso.

Na resolução, acontece o que a gente chama de período refratário que é o intervalo mínimo entre a obtenção de ereções.  Esse período pode variar de pessoa para pessoa.

Para a maioria das mulheres, este período refratário não existe: ela pode, logo após o ato sexual ter novamente desejo, excitação e novo orgasmo, não necessitando esperar um tempo para que isso ocorra novamente.

Se você quiser obter mais informações sobre a resposta sexual, leia o artigo sobre esse assunto aqui.

Quando uma pessoa se encontra em bom estado de saúde sexual, a resposta sexual é o ciclo natural da busca do prazer e da satisfação sexual.

Porém, muitos homens e mulheres não conseguem completar esse ciclo. Geralmente, quando isso acontece é porque em algum momento desse processo, alguma coisa não está funcionando corretamente. Nesses casos, a pessoa pode começar a apresentar problemas sexuais.

De modo geral, os problemas sexuais estão relacionados com as fases da resposta sexual. Muitas mulheres apresentam problemas relacionados com a fase da excitação.

Antes de falar sobre o problema de excitação sexual feminino, vamos tentar entender o que é e como acontece a excitação.

EXCITAÇÃO SEXUAL

O que é excitação?

Tanto no homem quanto na mulher, a excitação envolve a ativação de certas áreas do cérebro que estão ligadas à cognição (percepção, conhecimento), emoção, motivação e organização da congestão genital.

Também participam do processo de excitação, os neurotransmissores que são substâncias químicas produzidas pelos neurônios e que funcionam como mensageiros enviando sinais entre os neurônios e entre os neurônios e outras células do corpo.

Alguns neurotransmissores têm efeito excitatório (p. ex. dopamina e noradrenalina) e outros têm efeito inibitório como a serotonina, a prolactina e o GABA por exemplo.

Além dos neurotransmissores, a adrenalina (hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais) provoca o aumento do fluxo sanguíneo. O aumento do fluxo sanguíneo por sua vez ocasiona três fenômenos essenciais na fase da excitação e na atividade sexual: congestão, ereção e lubrificação. Vejamos o que significa cada um desses fenômenos.

Congestão (ou vasocongestão)

Congestão é o inchaço inicial dos órgãos genitais durante a excitação. A congestão acontece nos corpos esponjosos (bulbos esponjosos do pênis e do clitóris) que se abrem e suas cavernas se enchem de sangue fazendo com que essa região fique muito sensível.

O processo da congestão é fundamental para o orgasmo.

Durante a fase da excitação, além da congestão ocorre também a ereção.

Ereção

Como a gente acabou de falar, durante a excitação, as cavernas dos corpos esponjosos se abrem e se enchem de sangue aumentando a sensibilidade genital.

De modo semelhante, as cavernas dos corpos cavernosos também se abrem e se enchem de sangue.

Quanto mais sangue entra pelas cavernas dos corpos cavernosos, mais as veias (responsáveis pela saída do sangue) vão sendo pressionadas. Desse modo, os corpos cavernosos vão enchendo cada vez mais até que a pressão dentro do órgão é tanta que ele acaba endurecendo, causando o enrijecimento do órgão genital, que a gente chama de ereção.

Além da congestão e da ereção, outra alteração física importante na fase da excitação é a lubrificação.

Lubrificação

O aumento do fluxo sanguíneo na região dos órgãos genitais e a congestão/vasocongestão (inchaço dos órgãos genitais), provocam na mulher um fenômeno chamado por alguns especialistas de fenômeno “sudatório”, o que explica a lubrificação vaginal.

Assim, a vasocongestão proporciona a passagem de líquido nos vasos sanguíneos da mucosa vaginal para o interior da vagina, em maior ou menor intensidade conforme o grau de tensão sexual, e a consequente lubrificação do canal.

Além da congestão e da lubrificação, durante a excitação o corpo da mulher apresenta outras modificações significativas:

  • os grandes lábios tornam-se achatados, afilados e se abrem para os lados, o que permite que a entrada da vagina fique livre;
  • os pequenos lábios aumentam de 2 à 3 vezes de diâmetro e mudam de cor passando do rosa ao vermelho vivo;
  • o clítoris aumenta de tamanho;
  • a vagina muda de cor tornando-se vermelha escura e aumenta de tamanho;
  • o útero é empurrado ligeiramente para cima e aumenta de tamanho;
  • há um intumescimento e um ligeiro aumento do tamanho geral das mamas;
  • os mamilos tornam-se eretos.

As mulheres sexualmente excitadas apresentam ainda outras manifestações físicas:

  • taquicardia;
  • aumento da frequência respiratória;
  • elevação da pressão sanguínea;
  • aumento do calor generalizado;
  • tensão muscular generalizada;
  • rubor.

Em uma mulher que goza de perfeito estado de saúde sexual, essas são as alterações físicas visíveis durante a fase da excitação. Todas essas alterações são importantes, principalmente a lubrificação e as alterações na vagina que preparam o corpo da mulher para receber o pênis e induzi-la à próxima fase do ciclo que é o orgasmo.

Porém, se o mecanismo da excitação é prejudicado, a mulher pode começar a apresentar problemas relacionados à excitação. Na maioria das vezes, as mulheres desenvolvem dificuldades em ter a congestão (inchaço inicial dos órgãos genitais) e a lubrificação.

Transtorno de Excitação Sexual

Quais são as causas de problemas de excitação sexual na mulher?

Geralmente, problemas de excitação sexual são causados por fatores psicológicos ou fatores físicos ou pela combinação de ambos.

Fatores psicológicos

Os fatores psicológicos desencadeadores de problemas relacionados à excitação sexual mais frequentes são:

  • abuso (emocional, físico ou sexual) na infância ou adolescência;
  • ansiedade;
  • depressão;
  • baixa autoestima
  • medo de intimidade;
  • medo de perder o parceiro;
  • preocupação com as consequências indesejadas do sexo (como gravidez indesejada ou doenças sexualmente transmissíveis).

A baixa autoestima, por exemplo, é um dos principais desencadeadores de problemas relacionados à excitação sexual. Mulheres com idade avançada (que se sentem envelhecidas), mulheres na menopausa ou pós-menopausa, mulheres que sofrem de doenças crônicas, mulheres que passaram por cirurgias que deixaram sequelas e mulheres que têm uma imagem negativa de seu corpo são muito propensas a desenvolverem problemas de autoestima.

Fatores físicos

Algumas condições médicas – Doenças como diabetes melito e disfunção da tireoide por exemplo podem ser fatores causadores de problemas relacionados com a excitação sexual.

Uso de certos medicamentos – Certos antidepressivos (inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS)) e drogas quimioterápicas podem explicar a falta de excitação sexual.

Alguns fatores que causam problemas de excitação sexual podem estar relacionados com a situação em que a mulher se encontra.

  • Fatores relacionados ao parceiro – Estado geral de saúde e problemas sexuais.
  • Problemas de relacionamento – Comunicação inadequada, falta de confiança da parte da mulher e sentimentos negativos em relação ao seu parceiro sexual. É possível que a mulher sinta menos atração pelo parceiro do que sentia no início do relacionamento.
  • Estimulação sexual inadequada, técnicas sexuais pobres e falta de informação sobre sexualidade.
  • Ambiente inadequado – Alguns ambientes podem não ser adequados para a atividade sexual, como por exemplo a falta de privacidade e de segurança ou por não serem suficientemente eróticos que permitam uma expressão sexual desinibida.
  • Distrações – Família, trabalho, finanças, perda de emprego, luto e outras preocupações podem distrair a mulher e, portanto, interferir na excitação sexual.

O Problema de excitação genital (caracterizado pela falta de excitação física (genital) ao estímulo genital), têm muitas causas, incluindo:

  • baixo nível de estrogênio, como ocorre após o parto;
  • diminuição e secura dos tecidos da vagina (vaginite atrófica) após a menopausa;
  • infecção da vagina (vaginite) ou da bexiga (cistite);
  • distúrbios que causam mudanças na pele ao redor da abertura da área da vagina (vulva), como líquen escleroso;
  • possivelmente uma diminuição relacionada à idade nos níveis de testosterona.

Problemas de excitação genital também pode surgir quando certos distúrbios crônicos, como diabetes e esclerose múltipla, causam lesões nos nervos. A lesão no nervo leva à diminuição da sensibilidade na área genital.

Como a gente viu, são muitos os fatores que podem causar problemas de excitação sexual na mulher.

A principal consequência dos problemas de excitação é a dificuldade ou a incapacidade que a mulher tem em atingir o prazer e a satisfação sexual. Por conta dessa dificuldade, muitas vezes a mulher pensa ter uma disfunção sexual.

Porém, nem toda dificuldade em ter excitação sexual significa que a mulher tem uma disfunção sexual.

Na verdade, quando a mulher apresenta esporadicamente (de vez em quando) problemas de excitação, considera-se que que esses problemas podem estar relacionados com os eventos da vida (aborrecimentos, doenças etc.) e a falta de excitação é então considerada consequência desses eventos.

No entanto, se a falta de excitação persiste por um período prolongado (mais de seis meses) e causa sofrimento significativo na mulher, então a mulher pode apresentar um quadro de disfunção sexual.

Mas, o que é exatamente uma disfunção sexual?

DISFUNÇÃO SEXUAL

Disfunção sexual é um transtorno mental.

Isso mesmo!

Médicos, psicólogos, psiquiatras, terapeutas e outros especialistas da saúde do mundo inteiro concordam que uma disfunção sexual é caracterizada como um transtorno mental.

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), guia publicado pela American Psychiatric Association, um transtorno mental é “uma síndrome caracterizada por perturbação clinicamente significativa na cognição, na regulação emocional ou no comportamento de um indivíduo que reflete uma disfunção nos processos psicológicos, biológicos ou de desenvolvimento subjacentes ao funcionamento mental. Transtornos mentais estão frequentemente associados a sofrimento ou incapacidade significativos que afetam atividades sociais, profissionais ou outras atividades importantes”.

De modo geral, os transtornos mentais são caracterizados por alterações no pensamento, nas emoções e/ou no comportamento de uma pessoa. Quando essas alterações causam angústia significativa à pessoa e/ou interferem na sua vida cotidiana, elas são consideradas uma doença mental ou um transtorno de saúde mental.

A disfunção sexual como transtorno mental

Segundo o Manual DSM-5, as disfunções sexuais são definidas como uma “perturbação clinicamente significativa na capacidade de uma pessoa responder sexualmente ou de experimentar prazer sexual”.

Essa definição de disfunção sexual não é muito diferente da definição citada na Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (também conhecida como Classificação Internacional de Doenças – CID 10), guia publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS): “As disfunções sexuais dizem respeito às diferentes manifestações segundo as quais um indivíduo é incapaz de participar numa relação sexual, como ele ou ela desejaria”.

Essas duas definições de disfunção sexual, estão diretamente relacionadas com a definição de transtorno mental: trata-se de uma perturbação clinicamente significativa, que causa angústia e que afeta atividades sociais, profissionais ou outras atividades importantes, como a resposta sexual.

Qualquer disfunção sexual afeta diretamente as fases da resposta sexual.

Manual dos transtornos mentais
No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, as disfunções sexuais são consideradas como transtorno mental

Se você quiser obter mais informações sobre disfunção sexual, leia o artigo sobre esse assunto aqui.

Uma disfunção sexual muito comum relacionada à fase da excitação é o transtorno de excitação sexual.

TRANSTORNO DE EXCITAÇÃO SEXUAL

O que é transtorno de excitação sexual?

Transtorno de excitação sexual é a incapacidade persistente ou recorrente de adquirir ou manter lubrificação e turgescência (inchaço) adequadas até a consumação da atividade sexual. Isso quer dizer que a mulher não consegue ter aquele inchaço inicial que deixa a vulva sensível e nem fica lubrificada o suficiente para manter uma relação sexual até o fim.

Nos transtornos de excitação sexual, os tipos comuns de estimulação sexual (como beijar, dançar, assistir a um vídeo erótico e tocar os órgãos genitais) não causam excitação. A mulher não fica excitada nem mental ou emocionalmente (subjetivamente) nem fisicamente ou ambas.

O transtorno de excitação sexual pode ser classificado como subjetivo, genital e combinado.

Transtorno de excitação sexual subjetiva – Falta de excitação mental ou emocional a qualquer tipo de estímulo.

Mulheres com esse transtorno sexual não se sentem excitadas tanto mental quanto emocionalmente por nenhum tipo de estimulação genital ou não genital (p. ex., beijar, dançar, assistir um vídeo erótico, estimulação física), apesar da ocorrência de resposta genital física (p. ex., congestão genital).

Transtorno de excitação sexual genital – Falta de excitação física (genital) ao estímulo genital.

A estimulação que não envolve os órgãos genitais (como assistir um vídeo erótico) faz com que a mulher se sinta excitada (excitação subjetiva), mas quando os órgãos genitais são estimulados (inclusive durante a relação sexual) a mulher não percebe nenhuma resposta física (tal como inchaço, formigamento ou palpitação na área genital ou umedecimento vaginal) nem prazer físico. Às vezes, ocorrem respostas físicas, mas a mulher não as percebe.

Transtorno de excitação sexual combinado

A excitação subjetiva (mental ou emocional) é baixa ou inexistente em resposta a qualquer tipo de estímulo sexual e a excitação sexual física também é ausente ou seja, a mulher tem a necessidade de usar lubrificantes externos e não sente o intumescimento (inchaço) do clitóris.

Diagnóstico do transtorno de excitação sexual

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (MDS-5), os critérios para o diagnóstico de transtorno de excitação sexual feminino levam em conta as dificuldades relacionadas ao desejo e à excitação.

O Manual estabelece que os seguintes critérios devem estar presentes na mulher para que o médico possa diagnosticar os problemas relacionados à excitação como uma disfunção sexual:

A. Ausência ou redução significativa do interesse ou da excitação sexual, manifestada por pelo menos três dos seguintes:

  1. Ausência ou redução do interesse pela atividade sexual.
  2. Ausência ou redução dos pensamentos ou fantasias sexuais/eróticas.
  3. Nenhuma iniciativa ou iniciativa reduzida de atividade sexual e, geralmente, ausência de receptividade às tentativas de iniciativa feitas pelo parceiro.
  4. Ausência ou redução na excitação/prazer sexual durante a atividade sexual em quase todos ou em todos (aproximadamente 75 a 100%) os encontros sexuais (em contextos situacionais identificados ou, se generalizado, em todos os contextos).
  5. Ausência ou redução do interesse/excitação sexual em resposta a quaisquer indicações sexuais ou eróticas, internas ou externas (p. ex., escritas, verbais, visuais).
  6. Ausência ou redução de sensações genitais ou não genitais durante a atividade sexual em quase todos ou em todos (aproximadamente 75 a 100%) os encontros sexuais (em contextos situacionais identificados ou, se generalizado, em todos os contextos).

B. Os sintomas do Critério A persistem por um período mínimo de aproximadamente seis meses.

C. Os sintomas do Critério A causam sofrimento clinicamente significativo para a mulher.

D. A disfunção sexual não é mais bem explicada por um transtorno mental não sexual ou como consequência de uma perturbação grave do relacionamento (p. ex., violência do parceiro) ou de outros estressores importantes e não é atribuível aos efeitos de alguma substância/medicamento ou a outra condição médica.

Isso tudo quer dizer que para que uma mulher seja diagnosticada com o transtorno de excitação sexual, é necessário que ela tenha pelo menos 3 dos 6 sintomas citados no critério A, que esses sintomas durem por pelo menos 6 meses e que esses sintomas causem sofrimento para a mulher.

Além do mais, o diagnóstico do transtorno de excitação sexual não deve ser aplicado:

  • Aos casos em que a falta de excitação é atribuível inteiramente a outro transtorno mental.
  • Aos casos em que os sintomas sexuais são considerados quase exclusivamente associados aos efeitos de outra condição médica (como por exemplo o diabetes melito, doença endotelial, disfunção da tireoide, doença do sistema nervoso central).
  • Aos casos em que o uso de substâncias ou de medicamentos pode explicar a falta de excitação sexual.
  • Aos casos em que fatores interpessoais ou contextuais significativos, como perturbação grave do relacionamento, violência do parceiro, ou outros estressores significativos explicarem os sintomas de excitação sexual.

É interessante notar que, os sintomas do critério A podem se manifestar de diferentes maneiras entre as mulheres.

Em algumas mulheres os sintomas podem ser expressos como:

  • falta de interesse pela atividade sexual;
  • ausência de pensamentos eróticos ou sexuais;
  • relutância em iniciar a atividade sexual e em responder aos convites sexuais do parceiro.

Em outras mulheres, podem se apresentar como:

  • incapacidade para ficar sexualmente excitada;
  • incapacidade para responder aos estímulos sexuais com desejo;
  • ausência correspondente de sinais de excitação sexual física.

Finalmente, é importante lembrar que, no caso em que a falta de interesse/desejo for justificada pela identificação por parte da própria mulher como assexual, o diagnóstico de transtorno de excitação sexual não é aplicado.

Tratamento do transtorno de excitação sexual

A necessidade e a indicação do tratamento do transtorno de excitação sexual (assim como o de qualquer outro transtorno mental) é uma decisão clínica complexa, específica a cada paciente. De modo geral, o tratamento do transtorno de excitação sexual leva em consideração os seguintes fatores:

  • a gravidade dos sintomas;
  • a importância dos sintomas (p. ex., presença de ideação suicida);
  • o sofrimento da paciente (dor mental) associado ao(s) sintoma(as) da paciente;
  • riscos e benefícios dos tratamentos disponíveis;
  • outros fatores (p. ex., sintomas psiquiátricos complicadores de outras doenças).

Considerando esses fatores, os médicos podem encontrar mulheres cujos sintomas não satisfazem todos os critérios para um transtorno mental, mas que demonstram necessidade evidente de tratamentos ou cuidados.

Caso o diagnóstico do transtorno de excitação sexual seja confirmado, o médico pode indicar dois tipos de tratamento: somático e psicoterápico.

  • Tratamento somático

Inclui alguns medicamentos.

Dentre os medicamentos utilizados no tratamento do transtorno de excitação sexual, os mais conhecidos são os seguintes antidepressivos:

  • inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs), como fluoxetina, sertralina, paroxetina e citalopram;
  • inibidores de recaptação de serotonina-noradrenalina (IRSNs), como venlafaxina, duloxetina ou desvenlafaxina;
  • inibidores de recaptação de noradrenalina-dopamina, como bupropiona;
  • antidepressivos tricíclicos, como amitriptilina e nortriptilina: são usados em raras ocasiões atualmente para tratar a depressão devido aos seus efeitos colaterais;
  • inibidores de monoaminoxidase: podem ser eficazes, mas são raramente usados, exceto quando outros antidepressivos não foram eficazes.
  • Tratamento psicoterápico

Inclui tratamento com psicoterapia.

Psicoterapia, também chamada terapia de conversa ou simplesmente terapia, é um tratamento colaborativo em que paciente e terapeuta trabalham juntos para resolverem problemas psicológicos ou dificuldades emocionais.

Na psicoterapia, os profissionais de saúde aplicam procedimentos cientificamente validados para ajudar as pessoas a desenvolverem hábitos mais saudáveis ​​e efetivos.

Existem várias abordagens para a psicoterapia.

  • Terapia comportamental

A terapia comportamental foca os seus esforços na modificação dos comportamentos.

Assim, basicamente (bem basicamente!), o objetivo da terapia comportamental é identificar os comportamentos disfuncionais, quer dizer os comportamentos do indivíduo que causam sofrimento ou trazem malefícios a sua saúde, entender como e porque esses comportamentos foram estabelecidos e aplicar estratégias que ajudem o indivíduo a buscar novos comportamentos, reforçando aqueles que são adequados.

A terapia comportamental faz uso de um amplo conjunto de técnicas bem estruturadas e constantemente testadas em situações e problemas abordados pela psicologia aplicada que variam de acordo com o problema tratado.

  • Terapia cognitiva

Cognições englobam atitudespensamentos, valores, juízos, e convicções.  A terapia cognitiva parte do princípio de que a maneira como pensamos determina o modo como nos sentimos, nos comportamos e nossas reações corporais.  Essa terapia ajuda a pessoa a identificar as distorções do seu pensamento e a compreender de que maneira essas distorções causam problemas na sua vida. A pessoa aprende a pensar de formas diferentes sobre as suas experiências, reduzindo sintomas e resultando numa melhora do comportamento e dos sentimentos.

  • Terapia interpessoal

A terapia interpessoal foi concebida inicialmente como um breve tratamento psicológico para a depressão, e tem como objetivo melhorar a qualidade dos relacionamentos da pessoa com depressão. O terapeuta ensina a pessoa a melhorar os seus comportamentos nas relações interpessoais, como, por exemplo, a superar seu isolamento social e a responder de um modo diferente do habitual aos demais.

  • Psicanálise

A psicanálise é uma abordagem de tratamento baseada na observação de que os indivíduos muitas vezes desconhecem a maioria dos fatores que determinam suas emoções e comportamentos. Esses fatores inconscientes, podem ser a fonte de considerável sofrimento e infelicidade, às vezes na forma de sintomas reconhecíveis e outras como traços de personalidade preocupantes, dificuldades no trabalho e / ou nos relacionamentos amorosos ou perturbações no humor e na autoestima. O tratamento psicanalítico pode revelar como esses fatores inconscientes afetam os relacionamentos e padrões de comportamento atuais e ajuda o indivíduo a lidar melhor com as realidades da vida adulta.

  • Psicoterapia psicodinâmica

A psicoterapia psicanalítica e psicodinâmica é um processo terapêutico que ajuda os pacientes a entender e resolver seus problemas, aumentando a consciência de seu mundo interior e sua influência sobre os relacionamentos passados ​​e presentes. Difere da maioria das outras terapias, visando mudanças profundas na personalidade e no desenvolvimento emocional.

Como a gente acabou de ver, existem várias opções de tratamento para o transtorno de excitação sexual. Evidentemente, essa disfunção se apresenta em cada paciente de maneira específica.

Sendo assim, a escolha do tratamento varia de acordo com as especificidades da disfunção e das necessidades de cada paciente. Normalmente, o tratamento é feito com medicamentos e completado com alguma técnica de psicoterapia.

Como a gente viu, nem todas as mulheres que apresentam problemas de excitação sexual são diagnosticadas com o transtorno de excitação sexual que é uma disfunção sexual e, portanto, um transtorno mental.

No entanto, mulheres que apresentam problemas de excitação sexual podem e devem ser tratadas de acordo com as suas necessidades.

Um dos grandes desafios para os médicos é o de identificar a causa exata dos problemas de excitação sexual e indicar o tratamento adequado. Normalmente, o tratamento é feito de acordo com a causa identificada.

Tratamento de problemas relacionados à excitação sexual

O tratamento de problemas de excitação sexual é indicado segundo as especificidades do problema que a mulher apresenta.

  • Tratamento de problemas de excitação sexual provocados por fatores psicológicos

Os fatores psicológicos desencadeadores de problemas de excitação sexual mais frequentes são: o abuso (emocional, físico ou sexual) na infância ou adolescência, a ansiedade, a depressão, a baixa autoestima, o medo de intimidade, o medo de perder o parceiro e a preocupação com as consequências indesejadas do sexo (como gravidez indesejada ou doenças sexualmente transmissíveis). 

A baixa autoestima, por exemplo, é um dos principais desencadeadores de problemas relacionados à excitação sexual. Mulheres com idade avançada (que se sentem envelhecidas), mulheres na menopausa ou pós-menopausa, mulheres que sofrem de doenças crônicas, mulheres que passaram por cirurgias que deixaram sequelas e mulheres que têm uma imagem negativa de seu corpo são muito propensas a desenvolverem problemas de autoestima.  

Para mulheres apresentando problemas de excitação sexual causados por fatores psicológicos específicos, o tratamento mais indicado é a psicoterapia.

Psicoterapia 

Psicoterapia, também chamada terapia de conversa ou simplesmente terapia, é um tratamento colaborativo em que paciente e psicólogo trabalham juntos para resolverem problemas psicológicos ou dificuldades emocionais.

Na psicoterapia, os psicólogos aplicam procedimentos cientificamente validados para ajudar as pessoas a desenvolverem hábitos mais saudáveis ​​e efetivos.

Existem várias abordagens para a psicoterapia e, no tratamento de problema de excitação sexual, a mais utilizada é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC).

A premissa básica da TCC é que nossas crenças e a maneira como pensamos e interpretamos os eventos da vida (e não eventos externos em si) afetam a maneira como nos sentimos e comportamos. 

Em outras palavras, não é a situação em que você está que determina como você se sente, mas a sua percepção da situação.

O objetivo da terapia cognitivo-comportamental é identificar e corrigir pensamentos e crenças negativas. A ideia é que, se a pessoa mudar a maneira como pensa, poderá mudar a maneira como se sente.

Como a pessoa pode mudar a maneira de pensar?

A resposta para essa pergunta está no “desafio do pensamento”, também conhecido como reestruturação cognitiva. Trata-se de um processo no qual a pessoa desafia os padrões de pensamento negativo, substituindo-os por pensamentos mais positivos e realistas. Isso envolve três etapas:

  1. Identificação dos pensamentos negativos. 
  2. Desafio aos pensamentos negativos. 
  3. Substituição dos pensamentos negativos por pensamentos realistas. 
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) – A mulher é incentivada a substituir pensamentos negativos por pensamentos positivos

Outra abordagem utilizada no tratamento de problemas de excitação sexual é a terapia cognitiva baseada na atenção plena (MBCT), que combina terapia cognitivo-comportamental com a prática da atenção plena ou mindfulness.

Essa terapia consiste na concentração no momento atual, intencional, e sem julgamento. Concentrar-se “no momento atual” significa estar em contato com o presente e não estar envolvido com lembranças ou com pensamentos sobre o futuro. “Intencional” significa que o praticante de mindfulness faz a escolha de estar plenamente atento e se esforça para alcançar esta meta. “Sem julgar” significa que o praticante aceita todos os sentimentos, pensamentos e sensações como legítimos.

Mulheres que adotam tratamentos que incorporam mindfulness, desenvolvem um estado de consciência caracterizado por atenção relaxada e focada no momento presente, facilitando a observação das sensações corporais, das emoções e dos pensamentos.

Assim, como acontece na terapia cognitivo-comportamental, na terapia cognitiva baseada na atenção plena, a mulher é incentivada a identificar os pensamentos negativos. A mulher é, então, incentivada a observar simplesmente esses pensamentos e a reconhecer que são apenas pensamentos e possivelmente não refletem a realidade. Essa abordagem pode tornar tais pensamentos menos distrativos e perturbadores.

  • Tratamento de problemas de excitação sexual provocados por fatores físicos

Como vimos, algumas condições médicas e o uso de certos medicamentos são fatores físicos que podem desencadear problemas de excitação sexual.

Quando o problema de excitação sexual é causado por doenças como diabetes melito e disfunção da tireoide por exemplo, o tratamento e o controle da doença melhora ou elimina o problema da excitação sexual.  

No caso de o problema de excitação sexual ser provocado pelo uso de certos antidepressivos (inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS)), a substituição por outro antidepressivo que comprometa menos a resposta sexual talvez ajude.

  • Tratamento de problemas de excitação genital

Problema de excitação genital normalmente é tratado com terapia hormonal. O hormônio mais indicado é o estrogênio que, dependendo do caso, pode ser usado como um adesivo cutâneo ou inserido na vagina como um creme (com aplicador plástico), como um comprimido ou como um anel (semelhante a um diafragma).

Outro medicamento que talvez ajude é a desidroepiandrosterona (DHEA). Um comprimido é inserido na vagina todas as noites. Esse medicamento pode aumentar a lubrificação, reduzir a vaginite atrófica e melhorar a sensibilidade genital e o orgasmo. No entanto, esse medicamento ainda está em estudo.

  • Tratamento de problemas de excitação sexual de acordo com a situação em que a mulher se encontra

Muitas vezes, as mulheres encontram-se diante de certas situações que acabam interferindo de maneira negativa na capacidade delas se excitarem sexualmente. Essas situações normalmente estão associadas à problemas no relacionamento, ambiente inapropriado para atividade sexual, distrações do dia a dia, medo de engravidar ou de doença sexualmente transmissíveis e falta de informação sobre sexualidade.

  Problemas de relacionamento

Para que a atividade sexual seja uma experiência prazerosa e satisfatória para o casal, é fundamental que haja confiança, respeito e intimidade. A mulher precisa dessas qualidades para conseguir responder sexualmente. Essas qualidades podem ser cultivadas com alguns gestos que podem contar ou não com a ajuda de um profissional:

  • Melhorar a comunicação de modo geral, incluindo conversas abertas e francas sobre sexo. Identificar o que estimula (e o que desestimula) a mulher pode ajudar.  
  • Investir nas preliminares (carícias diminuem a ansiedade e aumentam a intimidade e a excitação).
  • Experimentar diferentes tipos de estímulos tais como vibradores e outros brinquedos eróticos, vídeos eróticos, fantasias e brincadeiras.
  • Praticar juntos atividades sem envolvimento sexual. Fazer compras, ver um filme, praticar um esporte, fazer faxina na casa (por que não?) ou simplesmente dar uma caminhada juntos são exemplos de atividades que podem ajudar a aproximar o casal.

Ambiente e momento inapropriado para atividade sexual

A mulher precisa se sentir relaxada, segura e desejada. Por isso é importante que o ambiente seja o mais propício possível para a atividade sexual: o local deve ser privado (sem o perigo de interrupções repentinas) mas também acolhedor e que incentive de alguma maneira os sentimentos sexuais (o uso de velas, música, decoração etc. sempre ajuda a criar um clima romântico ou erótico). É importante também considerar qual o melhor momento do dia para o sexo (algumas mulheres preferem na parte da manhã, outras estão mais dispostas à noite). 

Distrações do dia a dia

Muitos são os motivos que podem causar preocupações e distrair a mulher interferindo na capacidade de excitação sexual (família, trabalho, finanças, perda de emprego, luto etc.). A prática da atenção plena ensina a mulher a se concentrar no que está acontecendo no momento, sem fazer julgamentos ou monitorar o que está acontecendo. Manter-se concentrada ajuda a mulher a livrar-se de distrações e permite que ela preste atenção às sensações durante a atividade sexual.

Medo de engravidar ou de doença sexualmente transmissíveis

O uso do preservativo é fundamental para a prática do sexo seguro e o melhor meio para evitar doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada. A sensação de estar praticando o sexo seguro deixa a mulher menos ansiosa e aumenta a capacidade de excitação sexual.

Falta de informação sobre sexualidade

Muitas vezes, a mulher tem dificuldades em atingir a etapa da excitação devido à estimulação sexual inadequada ou às técnicas sexuais pobres de seu parceiro. Nesses casos, a mulher pode orientar o seu parceiro sobre suas necessidades de estimulação genital ou não genital. A mulher também pode guiar o parceiro no que diz respeito às técnicas e gestos que são mais estimulantes e excitantes.

Finalmente, conhecer melhor o seu próprio corpo, suas zonas erógenas e ter consciência do que lhe proporciona prazer pode ajudar a mulher a atingir e a manter a excitação necessária para uma relação sexual prazerosa e satisfatória.

Espero que esse artigo tenha esclarecido alguma dúvida que você possa ter em relação ao transtorno de excitação sexual. Se você ainda tiver alguma dúvida, entre em contato com o Portal Disfunção Sexual.

Se você apresentar problemas de excitação sexual, procure ajuda médica.

Se você acha que esse artigo pode ser útil para alguém que você conheça, não hesite em compartilhá-lo!

Até a próxima!

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